Mulheres, clima e santificação da indiferença
a necessidade de reconstruir o diálogo das relações de poder
Resumo
Quando se analisa pesquisas com diferentes pontos de vista referentes ao discurso sobre mulheres e mudanças climáticas, é possível identificar que há três pilares principais que sustentam essa discussão: a vulnerabilidade, a invisibilização e a virtuosidade feminina. Essas bases fornecidas para o debate são verdadeiras: mulheres são, muitas vezes e em muitos casos, mais vulneráveis que os homens, são também invisibilizadas pela sociedade moderna e são consideradas virtuosas em suas relações com o meio ambiente. No entanto, a questão que resta é até que ponto essas constatações são benéficas às mulheres. Quando se diz que uma mulher é vulnerável, invisível e virtuosa, ela se torna a vítima perante as alterações climáticas de hoje. Quando elas são declaradas vítimas, perdem a possibilidade de tomar frente em discussões que levam seu nome, o nome da Mulher, pois dependem de heróis, exclusivamente terminados em “óis”, sem chances de tomar suas próprias decisões e pensar em políticas que atendam seus somente por Elas sabidos anseios, sem previsão de heroínas, com “a” no final. No fim das contas, a discussão entre mulheres e clima se fecha no âmbito daqueles que têm capacidade, e frise-se, por vezes somente formal, de serem heróis, e que o fazem com a inserção do discurso “feminizador” da vulnerabilidade e da virtuosidade em documentos sobre mudanças climáticas, deixando a mulher em linhas, papéis e rabiscos, onde podem ser facilmente apagadas, reescritas e transcritas, conforme andem as relações de poder da sociedade. Dito isso, essa pesquisa pretende, para analisar as conexões entre mulheres e mudanças climáticas, partir do pressuposto das relações de poder hoje vigentes, que não se restringem a questões climáticas e ambientais, mas permeiam todas as esferas da vida das mulheres. O estudo valeu-se, então, de método de abordagem dedutivo e de procedimento documental e bibliográfico, partindo de pesquisas exploratórias, sendo consultados artigos científicos com diferentes visões sobre o tema, livros, periódicos e documentos jurídicos, nacionais e internacionais.
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